O gênero Theobroma, que em grego quer dizer alimentos dos Deuses, faz parte da família botânica das Malvácias e está presente no imaginário e na cultura de diversos povos. A espécie mais conhecida do gênero é o cacau (teobroma cacau) famoso por ser a matéria prima do chocolate, porém, outras variedades deste gênero estão sendo pouco a pouco redescobertas. Entre as diversas espécies encontradas na Amazônia, podemos destacar o Cupuí (Theobroma subincanum). Os povos que conheciam essa fruta nativa, em especial indígenas, as mantiveram por perto pelo seu intenso sabor doce e acidulado. Esta planta não é cultivada intensamente e a colheita de seus frutos se faz na grande maioria dos casos de forma extrativista.
O cupuizeiro é uma árvore que pode chegar até 20 m de altura, sendo ramificada em sua copa, as suas inflorescências são constituídas de até 3 flores axilares, com pétalas vermelhas, suas folhas são simples e alternadas, chegando a medir até 20-30 cm de comprimento, são grossas e se quebram facilmente. Os frutos são indeiscentes, possuem casca lenhosa e ficam amarelos quando atingem a maturação. No seu interior encontram-se muitas sementes envoltas em uma polpa carnosa, amarelada e saborosa, ambas sementes e polpa são comestíveis. O uso de suas sementes está sendo indicada como alternativa ao cacau na produção de gordura (manteiga) ou como componente para misturas de gorduras alimentícias. O cupuí pode ser considerada uma das espécies mais primitivas do gênero, a sua distribuição ocorre principalmente na bacia amazônica, Guiana Francesa e Venezuela.
O fruto é muito apreciado in natura e no preparo de sucos, porém vem surgindo novas possibilidades gastronômicas como no preparo de bolos e sobremesas, bons exemplos são os cremes e sorvetes, o que contribui para uma ampla utilização do cupuí é a sua polpa com pouquíssimo cheiro e exuberante sabor. São poucos os trabalhos e até mesmo a divulgação sobre esta planta, inclusive não existe na legislação brasileira, regulamento técnico para fixação de padrões de identificação e de qualidade da polpa desta fruta.
Uma análise feita revelou que a sua polpa apresenta uma característica muito ácida, com pH 3,5 equivalendo-se ao cupuaçu (theobroma grandiflorum), essa característica traz uma boa vantagem para o seu processamento.
O seu teor de vitamina C é de 19,05g em cada 100 gramas de parte comestível. Sendo superior ao cacau (Theobroma cacao), com 13,6g. Os glicídios presentes nesta planta são em média 16,32g em cada 100 g superior as espécies do cupuaçu e do cacau 10,4g e 10,3g respectivamente. Essa característica mais adocicada garante um bom beneficiamento e sabor muito agradável para o consumo.
Os lipídios estão em torno de 1,2%. O dobro de lipídios encontrados no cupuaçu, porém essa quantidade de lipídios não traz prejuízos para saúde, pois as gorduras presentes em frutas em sua maioria são insaturadas e quando consumidas junto com vegetais e grãos integrais diminui os riscos de problemas cardiovasculares.
O valor calórico total da fruta é de aproximadamente 80,24 Kcal.
Além de significativos valores nutricionais e possibilidades gastronômicas, o cupuí tem grande importância como indicador de qualidade ambiental e como fonte de alimento para fauna nativa.
LIMA, N. R.; SANTOS, E. F.; SANTOS, D. N.; BEZERRA, P. G. F.;LIMA, D. E. S. Caracterização físico-química e centesimal do cupuí (Theobroma subincanum mart.) / physical-chemical and centesimal characterization of cupuí (Theobroma subincanum mart.).
MARTINI, M. H.; TAVARES, D. Q. Reservas das sementes de sete espécies de Theobroma: revisão Seed reserves from seven species of the genus Theobroma: a review. Rev. Inst. Adolfo Lutz, 64(1):10-19, 2005.
KINUPP, V. F.; LORENZI, H. Plantas Alimenticias Não Convencionais ( PANC) no Brasil: guia de identificação, aspectos nutricionais e receita ilustradas. São Paulo Instituto Plantarum de Estudos da Flora, 2014.
Jefferson Vinicius Bomfim Vieira e Nina Cécile Lacampagne Ratard
Profª. Drª. Vanessa Pamponét e Profª. Drª. Cinira Farias
Nome Científico:
Theobroma subincanum
Nome Popular:
Cupuí
Partes utilizadas:
Frutos
Trufa de cupuí
Você vai precisar de 10 frutos de cupuí, 1 lata de leite condensado, 1 colher de sopa de manteiga ou gordura que preferir e meio kg de açúcar. Abra os frutos e retire a polpa esfregando as sementes numa peneira de arame. Reserve a polpa. Ponha as sementes pra torrar em forno baixo até dourarem. Enquanto as sementes torram, despeje a polpa do cupuí e a mesma quantidade de açúcar em uma panela e mexa até engrossar, em fogo médio. Reserve. Descasque as sementes de cupuí e triture-as no liquidificador. Numa panela ponha a manteiga, o leite condensado e as amêndoas de cupuí em pó, mexa até obter a textura de brigadeiro. Espere esfriar Enrole as trufas botando no meio uma colher de chá de doce de cupuí. Bom apetite!
Procurando PANC e derivados para refeições saudáveis e biodiversas? Clique aqui!
Jefferson Vinicius Bomfim Vieira: Graduando em Agroecologia pelo Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia Baiano, campus Uruçuca. Qualificado em gestão da propriedade rural com adaptação as mudanças climáticas pela Organização de Conservação da Terra (OCT). Auxiliar de fiscalização ambiental pelo Instituto Tecnológico Brasileiro (ITB). Desenvolve projetos e atividades de extensão em campo com comunidades, utilizando as ferramentas de Diagnóstico Rápido Participativo (DRP) e metodologias de intervenção. Trabalha com assistência técnica rural especializada e qualificada. Desenvolve trabalhos de Pesquisa em Adubação Orgânica. Foi bolsista do projeto de pesquisa “Sistemas Agroflorestais com o povo indígena Tupinambá da aldeia de Olivença” financiado pelo CNPQ e atualmente é aluno bolsista do projeto de pesquisa “Avaliação do incremento de carbono em sistemas agroflorestais no sul e baixo sul da Bahia” financiado pelo IFBAIANO. Participação no projeto de extensão PANC: Alimente-se de forma saudável e Sustentável do IFBAIANO, campus Uruçuca.
Currículo LattesNina Cécile Lacampagne Ratard: Apresentando como Trabalho de Conclusão de Curso o estudo: "Levantamento das Plantas Alimentícias Não Convencionais do IFBaiano campus Uruçuca". Participou do Grupo de Pesquisa POEMA (Projeto Oficina Plantas Medicinais e Aromáticas) em 2017. Ministrou cursos de horta urbana e PANC durante a graduação e participa atualmente do projeto de extensão "PANC: alimente-se de forma saudável e sustentável". Possui como formação complementar cursos de Design em Permacultura, PANC, Apicultura, Produção de Cogumelos e Identificação de Macrofungos Comestíveis da Mata Atlântica. Seus hobbies são coletar plantas e jardinagem.