Quem não conhece ou nunca ouviu falar em um dos símbolos do nordeste brasileiro, o Mandacaru? Existem muitas músicas que têm como destaque o Mandacaru, algumas bastante populares como o “Xote das meninas” de Luiz Gonzaga e Zé Dantas, onde canta-se: “Mandacaru quando fulora na seca é o sinal que a chuva chega no sertão”, já ouviram né?
O nome Mandacaru tem origem Tupi Guarani. É uma planta nativa do bioma caatinga, único bioma exclusivamente brasileiro que cobre a maior parte do nordeste e 13% do território nacional. Possui maior ocorrência natural do estado do Maranhão ao estado da Bahia. O Mandacaru se adapta facilmente a diferentes tipos de solo (inclusive solos pedregosos) e diferentes climas, não tolerando umidade excessiva, pertence à família das cactáceas e com outras plantas da mesma família formam a belíssima paisagem do semiárido nordestino.
O Mandacaru caracteriza e embeleza as paisagens do sertão nordestino. É um cacto de porte arbóreo, que pode atingir de 3 a 7 metros de altura, possui caule de coloração verde, rico em clorofila, coberto de “espinhos” que na verdade são folhas modificadas. Os espinhos além de ser uma estratégia de defesa da planta tem a função de evitar a perda excessiva de água acompanhado de uma cutícula espessa, por isso o Mandacaru que retém grande quantidade de água possui alta resistência aos longos períodos de estiagem podendo ser usado pelo sertanejo para alimentação e dessedentação dos animais. As flores do Mandacaru são grandes, com coloração branco-amareladas e só abrem a noite atraindo morcegos e mariposas que são agentes polinizadores; segundo a crença popular, o florescimento indica fim da estiagem e início do período de chuvas. Os frutos são avermelhados, bonitos com polpa branca adocicada e sementes escuras. A propagação ocorre através do uso das sementes ou por estacas do caule.
É uma cactácea muito versátil sendo utilizada na alimentação humana, na indústria de cosméticos, artesanato, como madeira, na recuperação de áreas degradadas, como planta ornamental, na purificação da água, além de que, segundo populares e pesquisadores possui propriedades medicinais como diurético, cardiotônico, vermífugo dentre outros.
O Mandacaru já matou a fome de muito sertanejo e seus animais em períodos de grande escassez de alimento. O caule pode ser utilizados em preparações culinárias para a alimentação humana devendo ser retirado os espinhos e branqueado. Pode ser feito cortes no caule de modo a obter pedaços com a forma de estrela, uma beleza para decoração de pratos. No caule contém fécula, com a qual se preparam pães, biscoitos, broas e mingaus. Os frutos são muito apreciados pois apresentam cheiro e sabor adocicado, podem ser são consumidos in natura ou no preparo de doces, geleias e compotas. Na composição nutricional do caule se destaca a presença de proteínas, fibras, gorduras e carboidratos. Foram registrados 15,84% de água, 10,72% de proteína bruta, 1,04% de estrato etéreo, 45,52% de extrativos não nitrogenados, 16,22% de fibra bruta e 10,66% de resíduo mineral.
Ainda são incipientes os estudos sobre plantas nativas da caatinga, dentre elas o Mandacaru, desse modo se faz necessário mais conhecimento sobre as espécies para maior preservação da biodiversidade, segurança alimentar e reconhecimento das propriedades nutracêuticas.
Pra finalizar deixo esse pequeno cordel que traz um pouco da representatividade do Mandacaru pro povo sertanejo:
A Flor do Mandacaru
Nasce a bela flor do mandacaru.
Por entre espinhos sua beleza aponta.
O nordestino ao vê-la se apronta,
Sinal de inverno que está por vir.
É o sertanejo alegre a sorrir,
Bom sinal, que a natureza manda.
Flor, bela flor que a todos encanta,
Carrega consigo o alivio da dor.
Mandacaru a sua mensagem em flor
No seco carrasco, você se agiganta.
Júnior do Cordel
ALMEIDA, M. M.; SILVA, F. L. H.; CONRADO, L. S.; FREIRE, R. M. M.; VALENÇA, A. R. Caracterização física e físico-química de frutos do mandacaru. Revista Brasileira de Produtos Agroindustriais. Campina Grande, v.11, n.1, p.15-20, 2009.
ANDRADE, C.T.S.; MARQUES, J.G.W.; ZAPPI, D. C. Utilização medicinal de cactáceas por sertanejos baianos. Rev. Bras. Pl. Med., Botucatu, v.8, n.3, p.36-42, 2006.
BAHIA, E. V. A.; MORAIS, L. R. V.; SILVA, M. P.; LIMA, O. B. V.; SANTOS, S. F. Estudo das características físico-químicas do fruto do mandacaru (cereus jamacaru p.dc.) cultivado no sertão pernambucano.
EMBRAPA - Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária.
PINTO, M. P. Desenvolvimento de sorvete à base de polpa de mandacaru e xiquexique. Trabalho de Conclusão de Curso, 2017.
SANTOS, T. C.; JÚNIOR, J. E. N.; PRATA, A. P. N. Frutos da Caatinga de Sergipe utilizados na alimentação humana. scientia plena. vol. 8, num. 4 2012.
SANTOS. H. T.; SOUZA, M. G.; AMADOR, M. B. M. A percepção do mandacaru (cereus jamacaru) pela população local na paisagem rural de Jupi-Pe. Revista Homem, Espaço e Tempo.
SILVA, L. R.; Alves, R. E. Caracterização físico-química de frutos de “mandacaru”. Rev. Acad., Ciênc. Agrár. Ambient., Curitiba, v. 7, n. 2, p. 199-205, abr./jun. 2009.Ediane Rodrigues Brito e Jhessica Cardoso da Silva
Profª. Drª. Vanessa Pamponét e Profª. Drª. Cinira Farias
Nome Científico:
Cereus jamacaru
Nome Popular:
Mandacaru-de-boi, cardeiro, tunam, cacto, candelabro, jamacaru, pytaia arbórea, dentre outras denominações.
Partes utilizadas:
Podemos utilizar o caule, as flores, os frutos, sementes e as raízes.
COCADA COM PALMITO DE MANDACARU
Você vai precisar de 500 gramas de açúcar, 1 kg de palmito de mandacaru, 200 gramas de coco ralado, 1 pedaço de canela, cravos a gosto e 1 litro de água. Retire toda a pele verde do mandacaru e deixar somente a polpa branca. Bata a polpa do mandacaru no liquidificador com a água. Leve ao fogo em uma panela juntando os demais ingredientes e deixe reduzir até atingir o ponto desejado.
CHÁ DE MANDACARU
Retire os espinhos da planta. Retire a casca mais grossa que protege o interior da planta. Deixe de molho durante a noite. Corte em pedaços médios e bata no liquidificador com uma quantidade razoável de água. Guarde em uma garrafa de vidro na geladeira e esquente apenas a quantidade que for consumir, preferencialmente durante as manhãs ou durante as noites.
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Ediane Rodrigues Brito: Técnica em Agropecuária e Graduanda em Agroecologia pelo Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia Baiano, campus Uruçuca. Integrante do grupo de pesquisa POEMAH (Projeto Oficina em Ervas Medicinais, Abelhas e Hortaliças), do grupo de Estudo e prevenção: Parasitoses e do projeto de extensão PANC: Alimente-se de forma saudável e Sustentável do IFBAIANO, campus Uruçuca. Ministrei oficina sobre alimentação nutritiva sustentável utilizando PANC na Semana Nacional de Ciência e Tecnologia do IFBAIANO, campus Uruçuca. Apaixonada pela natureza e pela biodiversidade, gosta de desafios e de experimentar coisas novas.
Currículo LattesJhessica Cardoso da Silva: Técnica em Agropecuária pela Escola Família Agrícola de Santana Pe. Arthur Birk, Santana-Ba. Graduanda em Agroecologia pelo Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia Baiano, campus Uruçuca. Certificada em curso de Florestas Plantadas, Nutrição e Manejo Alimentar em Bovinocultura Leiteira, Marcação de Matrizes, Técnicas de Coletas de Sementes em Arvores Nativas do Sul da Bahia e Produção de Mudas, Formação Cooperativista, Sistemas Agroflorestais-Saf: Princípios e Introdução à Metodologia de Implantação da Agroflorestal Sucessional, Minicurso de Licenciamento Ambiental e Métodos de Amostragem em Campo, Minicurso de Técnicas de Bioconstrução, Curso de Segurança, Saúde e Higiene do Trabalho na Aplicação de Agrotóxicos e Trabalho em Áreas Rurais. Atualmente sou bolsista do Projeto de Extensão “PANC: Alimente-se de forma saudável e sustentável” do IFBAIANO, campus Uruçuca. Já atuei como ministrante de oficinas sobre “Alimentação nutritiva e sustentável utilizando PANC” no IV Seminário de Sustentabilidade Ambiental.
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