Como quase toda criança, também tinha o sonho de ter uma casinha na árvore, e adivinha? Esse sonho foi concretizado, assim como de muitas crianças sertanejas, isso graças aos “pés” de umbuzeiros que por possuir galhos ramificados e baixos nos permitiam escalar sem dificuldades, além de fornecer sombra para nos proteger do sol. Na casinha do “pé” de umbuzeiro fazíamos “comidinhas” com suas folhas, flores e frutos. Horas e horas se passavam, e nem percebíamos, a noite chegava e já combinávamos de continuar no dia seguinte, a árvore da minha infância, fornecia segurança, alimento e sombra para qualquer que fosse a brincadeira de criança.
Por conta da globalização e o aumento do consumo de produtos industrializados na cidade e no campo, isso fez com que houvessem mudanças nos hábitos alimentares. Com a facilidade de obtenção de alimentos industrializados, muitas pessoas foram deixando de consumir e cultivar alimentos regionais, acarretando em perdas culturais e de identidade alimentar. O que essas pessoas não sabem, é que, ao consumir um alimento regional estão valorizando saberes e a cultura de seus antepassados e garantindo a soberania alimentar e nutricional. O umbuzeiro é uma dessas plantas regionais! É considerada uma árvore sagrada e adorada por comunidades indígenas em rituais espirituais por demostrar os primeiros sinais de vida da caatinga após o final da estação seca e é considerada como uma planta medicinal de grande importância para algumas tribos indígenas e povos tradicionais.
Pertence à família Anacariaceae, é endêmica do semiárido brasileiro que possui a caatinga como bioma predominante. Sugere-se que por conta da grande uniformidade fenotípica da planta encontrada nas regiões de Tanquinho, Jeremoabo e Ipupiara na Bahia, Petrolina em Pernambuco e Pio IX no Piauí que esses sejam os locais de origem da espécie S. tuberosa. A denominação umbuzeiro possui origem tupi-guarani, é derivado da palavra “ymb-u”, que pode ser traduzido como "a árvore que dá água", é conhecido localmente como Umbu, Imbu, Ambu ou Ombu. É uma planta xerófita, frutífera, de porte arbustivo que pode atingir aproximadamente 9 m de altura, com uma copa ampla em forma de guarda-chuva com 10 a 15 m de diâmetro, possui tronco ramificado e atrofiado, as folhas são pinadas com número ímpar de folíolos ovais, as raízes concentram-se na camada de até 1 metro de profundidade, possui órgãos de reserva denominados xilopódios, capaz de armazenar água, minerais e soluções orgânicas com peso variando de 1 a 4 kg nas plantas adultas, com inflorescência tipo panícula, suas flores são brancas, aromáticas e melíferas, após 60 a 125 dias de abertura dão origem a frutos maduros, sendo as flores 40% hermafroditas e 60% masculinas, os frutos são amarelo esverdeado com polpa branco-esverdeada coberta por uma pele fina que pode ser lisa ou com pelos, com formato variando de redondo a oval ou oblonga, possui polpa mole e suculenta de sabor agridoce e agradável, no seu interior possui um único caroço onde se encontra a semente, seu fruto também é chamado de ameixa brasileira. A dispersão das sementes é realizada por animais nativos.
Além de seu valor como frutífera, o umbuzeiro também pode ser empregado para finalidades forrageiras (as folhas e frutos são consumidos por caprinos e ovinos), madeireiras e medicinais. Importante para polinizadores e sugadores de néctar. É uma das árvores nativas mais importantes do semiárido, pesquisadores indicam excelentes efeitos econômicos da planta para pequenos produtores rurais, na geração de emprego e renda. Apesar de toda sua importância ambiental, social e econômica, a planta enfrenta riscos na regeneração natural e que pode levar a extinção da espécie.
Pesquisas constataram a eficiência de sua utilização no tratamento de patologias como inflamações provocadas por microorganismos, diabetes, cólicas uterinas, dores de estômago e diminuição nos níveis de colesterol. Na composição nutricional do fruto destaca-se alto teor de vitamina C, 50 mg em cada 100 g de polpa. Possui substâncias biologicamente ativas que podem promover uma alimentação saudável, incluindo clorofila, carotenóides, flavonóides e outros compostos fenólicos. Além disso, pode-se considerar que possui excelente potencial antioxidante natural quando comparado a antioxidantes sintéticos. Suas sementes são compostas por 55% de lipídios, dos quais 69% são insaturados. Seu conteúdo proteico é de aproximadamente 24% e baixo teor de carboidratos, pode ser considerada uma boa fonte de P, K, Mg, Fe e Cu. Seu alto teor de lipídios pode se tornar uma atração econômica na exploração de óleo e para utilização na indústria alimentícia.
O umbuzeiro pode ser plantado em praticamente toda a Região Semi-Árida do Nordeste brasileiro, por se desenvolver e produzir bem nessa região. A propagação pode ser feita através de sementes, estaquia ou enxertia, recomenda-se que o plantio seja realizado em curva de nível, e que se evite solos encharcados ou que estejam sujeitos ao encharcamento. Deve-se plantar umbuzeiro no início das chuvas, para que se aproveite melhor a área de cultivo recomenda-se o plantio de outras culturas regionais nos espaços entre as plantas de umbuzeiros, melhor ainda se essas plantas regionais forem PANC, né?
“Umbuzeiro é a árvore sagrada do sertão. Sócio fiel das rápidas horas felizes e longos dias amargos dos vaqueiros. Representa o mais frisante exemplo de adaptação da flora sertaneja.” (Euclides da Cunha em “Os sertões”).
Vamos plantar, cuidar, preservar e consumir!!!
Basta, Fabiane Rabelo da Costa et al. O umbuzeiro e o semiárido brasileiro. Campina Grande: INSA, 2015. 72p
MERTENS, Jan et al. Umbuzeiro (Spondias tuberosa): A systematic review. Revista Brasileira de Ciências Ambientais (Online), n. 36, p. 179-197, 2015.
PAODJUENAS, Rogério et al. Conhecimento tradicional e usos do umbuzeiro (Spondias tuberosa Arruda) por comunidades rurais do semiárido paraibano, Nordeste do Brasil. Ethnoscientia. v. 4, 2019.
Seis receitas com umbu. Revista Globo Rural.
Ediane Rodrigues Brito e Jhessica Cardoso da Silva
Profª. Drª. Vanessa Pamponét e Profª. Drª. Cinira Farias
Nome Científico:
Spondias tuberosa Arruda
Nome Popular:
Umbu, imbu, ambu, ombu, imbuzeiro, umbuzeiro.
Partes utilizadas:
São consumidas as folhas, frutos e os xilopódios (espessamentos das raízes, popularmente chamados de batata do umbu).
UMBUZADA
Ingredientes:
Modo de preparo:
PICLES DE UMBU
Ingredientes:
Modo de preparo:
DOCE DE UMBU (CREMOSO OU DE CORTE)
Ingredientes:
Modo de preparo:
MOUSSE DE UMBU
Ingredientes:
Modo de preparo:
Pronto, é só servir!
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Ediane Rodrigues Brito: Técnica em Agropecuária e Graduanda em Agroecologia pelo Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia Baiano, campus Uruçuca. Integrante do grupo de pesquisa POEMAH (Projeto Oficina em Ervas Medicinais, Abelhas e Hortaliças), do grupo de Estudo e prevenção: Parasitoses e do projeto de extensão PANC: Alimente-se de forma saudável e Sustentável do IFBAIANO, campus Uruçuca. Ministrei oficina sobre alimentação nutritiva sustentável utilizando PANC na Semana Nacional de Ciência e Tecnologia do IFBAIANO, campus Uruçuca. Apaixonada pela natureza e pela biodiversidade, gosta de desafios e de experimentar coisas novas.
Currículo LattesJhessica Cardoso da Silva: Técnica em Agropecuária pela Escola Família Agrícola de Santana Pe. Arthur Birk, Santana-Ba. Graduanda em Agroecologia pelo Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia Baiano, campus Uruçuca. Certificada em curso de Florestas Plantadas, Nutrição e Manejo Alimentar em Bovinocultura Leiteira, Marcação de Matrizes, Técnicas de Coletas de Sementes em Arvores Nativas do Sul da Bahia e Produção de Mudas, Formação Cooperativista, Sistemas Agroflorestais-Saf: Princípios e Introdução à Metodologia de Implantação da Agroflorestal Sucessional, Minicurso de Licenciamento Ambiental e Métodos de Amostragem em Campo, Minicurso de Técnicas de Bioconstrução, Curso de Segurança, Saúde e Higiene do Trabalho na Aplicação de Agrotóxicos e Trabalho em Áreas Rurais. Atualmente sou bolsista do Projeto de Extensão “PANC: Alimente-se de forma saudável e sustentável” do IFBAIANO, campus Uruçuca. Já atuei como ministrante de oficinas sobre “Alimentação nutritiva e sustentável utilizando PANC” no IV Seminário de Sustentabilidade Ambiental.
Currículo Lattes