Desde o princípio da agricultura a humanidade vem aproveitando as plantas de diversas formas para garantir sua sobrevivência, e desta convivência, vem acumulando conhecimento sobre as espécies. Na Amazônia existem diversas espécies nativas, algumas delas coexistindo com os seres humanos, interagindo direta ou indiretamente, mas com potencial de uso ainda desconhecido por grande parte da população. É o caso da Victoria amazonica, planta que vive nos cursos de água mais parada como lagos. Muito conhecida como vitória-régia, a planta recebeu esse nome em homenagem à rainha Vitória do Reino Unido, quando suas sementes foram levadas para ela de presente pelo explorador alemão Robert Hermann Schomburgk.
Desde criança, quando viajava com minha mãe para o município de Autazes (AM), podia avistar ela presente nos lagos presentes naquela região de várzea. Da janela do ônibus ou do barco eu observava essas plantas curiosas ao longo do caminho, compondo a linda paisagem da região. Ficava curiosa para entender como elas estavam ali, enormes, flutuando. É porque são plantas aquáticas e ao longo da sua evolução desenvolveram estratégias para ocupar esse ambiente, uma planta herbácea, cujos rizomas ficam fixos no fundo dos rios, e quando seca fica sem as folhas, somente as batatas dentro da terra. Quando o rio está cheio desenvolvem um longo pecíolo com espinhos que estão presentes na parte inferior e bordas das folhas, e produzem até 24 folhas ao mesmo tempo (KINUPP e LORENZI, 2014). Também produzem flores solitárias que se abrem a noite na coloração branca e tornando-se cor-de-rosa, que dão origem a um único fruto, também cheio de espinhos. A literatura descreve que a Victoria amazonica é muito utilizada em paisagismo em diversas partes do mundo, mas ainda pouco cultivada no Brasil. Possui a maior flor das Américas, e a segunda do mundo, com 30 cm de diâmetro (POTT e POTT, 2000).
No uso comestível, as sementes, ricas em amido, ferro e flúor, podem ser transformadas em farinha, assadas, torradas ou estouradas como pipoca, podendo ser também alimento para a fauna; os rizomas podem ser cozidos e utilizados em diversos preparos; o pecíolo pode ser usado como verdura; as pétalas tenras podem ser utilizadas cruas ou cozidas (sem estames – leve amargor). Ainda necessita de muitos estudos químicos, nutricionais e horticulturas (KINUPP e LORENZI, 2014).
Em outros usos, sua folha gigante pode servir como tabuleiro para forno, e também tem propriedades medicinais, como depurativa e cicatrizante. O suco serve como tintura de cabelo de preto, pele e couros finos (POTT e POTT, 2000).
Embora seja amplamente conhecida, o uso alimentício da V. amazonica ainda é pouco difundido, sendo encontrado em poucos restaurantes. A sustentabilidade é uma questão importante, portanto conhecer a propagação da espécie para desenvolvimento de plantios, bem como a proteção dos ambientes onde estão presentes naturalmente são fundamentais para sua manutenção.
KINUPP, Valdely; LORENZI, Harry. Plantas Alimentícias Não Convencionais (PANC) no Brasil: guia de identificação, aspectos nutricionais e receitas ilustradas. São Paulo: Instituto Plantarum de Estudos da Flora, 2014, p. 566-567.
POTT, Vali Joana; POTT, Arlindo. Plantas Aquáticas do Pantanal. Embrapa. Centro de Pesquisa Agropecuária do Pantanal (Corumbá-MS). Brasília: Embrapa Comunicação para Transferência de Tecnologia 2000, p.220-221.
ROSA-OSMAN, Sônia Maciel da, et al. Morfologia da flor, fruto e plântula de Victoria amazonica (Poepp.) J.C. Sowerby (Nymphaeaceae).Acta Amazônica, 2011, vol. 41, p. 21-28.
Renata Elcy Farias Geraldo (Renata Peixe-boi)
Nome Científico:
Victoria amazonica
Nome Popular:
Victoria-regia, ninfa-das-águas, rainha-dos-lagos, milho-d’água, cará-d’água, forno-d’água, jaçanã, nampé
Partes utilizadas:
Os rizomas podem ser consumidos cozidos, os pecíolos e pétalas cruas e as sementes podem ser transformadas em farinha ou estouradas como pipoca
Victoria amazonica empanada
Ingredientes:
Modo de preparo 1:
Modo de preparo 2:
Modo de preparo 3:
Todas estas 3 maneiras de preparar funcionam muito bem! Fica super gostoso e tem um leve sabor de peixe. Pode fazer um molho para acompanhar e servir como tira-gosto.
Renata Elcy Farias Geraldo:Renata Peixe-boi, nascida em Manaus, cresceu em contato com o campo. Formada em Propaganda e Marketing (2005) e atualmente estudante no curso de Tecnologia em Agroecologia no Instituto Federal do Amazonas (IFAM), vem desde 2011 estudando as Plantas Alimentícias Não Convencionais (PANC). Feminista, membra da Rede Maniva de Agroecologia (REMA) apoia a produção orgânica, ativista do movimento Slow Food, divulga o uso desse recurso como forma de valorização da região Amazônica, povos e diversidade alimentar. Como doula membra da ong Mama Ekos, que atua em Maués-AM, vem participando de encontros de sabres sobre a parteria tradicional, os alimentos e outros aspectos relacionados às culturas locais junto às comunidades ribeirinhas e aos indígenas da etnia Sateré-mawé.
Currículo Lattes