A corama pertence à família Crassulaceae, que são plantas de porte geralmente herbáceo, pertencentes ao grupo popularmente conhecido como “suculentas”, devido à morfologia carnosa de suas folhas. De ampla distribuição geográfica, esta planta foi introduzida em muitas regiões tropicais e temperadas para fins ornamentais e, em algumas regiões, como no Hawai, é considerada uma planta invasora, que forma densos povoamentos em áreas preferencialmente secas e perturbadas (1).
No Brasil, apesar de ser encontrada em diversas regiões (2), fui conhecer seu potencial medicinal e alimentício apenas nas primeiras vezes que estive na região Amazônica. Nessa ocasião, havia sido acometida por uma inesperada dor de estômago, enquanto cursava uma disciplina de etnobotânica, na comunidade Nossa Senhora do Livramento, cerca de Manaus, AM. Uma senhorinha nativa, muito simpática, percebeu minha situação e me fez um preparado de folhas de corama, que me auxiliou rapidamente!
Na literatura existe uma gama de indicações populares e estudos medicinais com a corama, que tem forte ação bactericida e é recomendada para tratamento de úlceras, gastrites, problemas hepáticos, cataplasmas externos (3), problemas renais (como pedra nos rins), infecções pulmonares, artrite reumatóide (1), entre outras. De fato, a corama tem uma diversidade enorme de utilidades, entretanto seus potenciais alimentícios ainda são pouco explorados e, por vezes, causam estranhamento da população que está acostumada a utilizá-la apenas como remédio!
Aqui no Acre, mais especificamente na região de Cruzeiro do Sul, a corama, que também é conhecida em algumas localidades (como, por exemplo, no rio Croa) como “anador” (4), em função de sua ação terapêutica; marca presença na maioria dos quintais e canteiros, sendo classificada popularmente como uma espécie “de planta”, ou seja, que ocorre aos redores das casas e pode ser cultivada ou plantada. Em conversa com os moradores da comunidade rural do Ramal São Francisco, local onde resido, também me informei de que a corama pode ser utilizada para o combate de gripes, resfriados e até de frieiras. Muitas vezes é utilizada junto com outras espécies vegetais na composição de remédios caseiros do tipo “lambedor”, termo usado para designar os xaropes. Outras espécies de Kalanchoe também são comuns nos quintais acreanos como a língua-de-dragão (K. delagoensis Eckl. & Zeyh) e a calanchoê (K. blossfeldiana Poelln), utilizadas exclusivamente para fins ornamentais (5).
A corama pode ser cultivada facilmente e, desta forma, melhor aproveitada para o consumo nutricional. Na crenatura de suas folhas (as “ondinhas” da margem das mesmas), um caractere morfológico característico das Kalanchoe, nascem muitos brotinhos que podem ser utilizados para a sua propagação. Basta enterrar a folha na terra e regar de vez em quando (a corama já tem bastante água acumulada em suas folhas)! Particularmente, tenho me aventurado a explorar a corama de diversas formas! Além das receitas que compartilho neste post, ela também pode ser utilizada em lanches, caldos e vitaminas, pois suas folhas podem ser consumidas in natura tranquilamente. Aproveite!
(1) Majaz, Q. A.; Tatiya, A. U.; Khurshid, M.; Nazim, S. & Siraj, S. 2011. The miracle plant (Kalanchoe pinnata): A phytochemical and phamarcological review. International Journal of Research in Ayurveda & Pharmacy 2(5): 1478-1482.
(2) Flora do Brasil 2020 em construção. Jardim Botânico do Rio de Janeiro. Disponível em:
(3) Kinupp, V. F. & Lorenzi, H. Plantas alimentícias não convencionais (PANC) no Brasil. São Paulo: Reimpressão, 2015.
(4) Seixas, A. C. P. S. 2008. Entre terreiros e roçados: A construção da agrobiodiversidade por moradores do Rio Croa, Vale do Juruá (AC). Dissertação de Mestrado, 165p.
(5) Siviero, A.; Delunardo, T. A.; Haverroth, M.; Oliveira, L. C.; Roman, A. L. C. & Mendonça, A. M. S. 2014. Plantas ornamentais em quintais urbanos de Rio Branco, Brasil. Boletim do Museu Paraense Emílio Goeldi. Ciências Humanas, v. 9, n.3, Pp. 797-813.
Nicoll Andrea Gonzalez Escobar
Nome Científico:
Kalanchoe pinnata (Lam.) Pers.
Nome Popular:
Corama, courama, coirama, corama-santa, anador, folha-da-fortuna, pirarucu
Partes utilizadas:
Folhas (cruas ou levemente cozidas).
PATÊ DE RICOTA COM CORAMA
Ingredientes:
Modo de preparo:
MOLHO DE JERIMUM COM CORAMA
Ingredientes:
Modo de preparo:
SUCO VERDE DE CORAMA COM LIMÃO
Ingredientes:
Modo de preparo:
Nicoll Andrea Gonzalez Escobar:Nicoll é bióloga, mestre em Biologia Vegetal e doutoranda do Programa de Biologia Vegetal da Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP), instituição onde realizou toda a sua formação acadêmica. De nacionalidade chilena, reside no Brasil desde criança, onde criou raízes para explorar os diferentes ecossistemas do país e toda a diversidade de vida que abriga. Com foco na taxonomia vegetal, dedica-se à união dos conhecimentos tradicionais advindos das diferentes culturas do mundo com a ciência ocidental. Atualmente reside em Cruzeiro do Sul, Acre, Amazônia ocidental brasileira, onde desenvolve seu doutorado com o tema “etnotaxonomia indígena”, além de exercer diversas atividades relacionadas à pesquisa e cultivo de espécies vegetais.
Currículo Lattes